A actriz norte-americana escreveu um artigo de opinião que é publicado nesta terça-feira no diário The New York Times
em que explica por que razão decidiu fazer uma dupla mastectomia
preventiva (cirurgia em que se removem as duas mamas) depois de
descobrir, através de uma série de exames médicos, que era portadora de
um gene “defeituoso” (nas palavras da actriz), o BRCA1, e que por causa
dele tinha forte probabilidade de vir a desenvolver cancro da mama (87%)
e dos ovários (50%).
No texto a que chamou My medical choice (A minha escolha médica), a actriz que conhecemos como Lara Croft e que protagonizou filmes como A Troca (de Clint Eastwood) e O Turista (Florian Henckel von Donnersmarck), tendo recebido um Óscar de Melhor Actriz Secundária pelo filme Vida Interrompida (1999), não se poupa a pormenores. Fala das várias cirurgias, desde a primeira, que aumentou a probabilidade de vir a salvar os mamilos, à terceira e última, em que fez a reconstituição mamária, admitindo que sentiu dores ao longo do processo e que a maior das intervenções lhe pareceu uma cena saída de um filme de ficção científica.
“Quis escrever para dizer a outras mulheres que a decisão de fazer uma mastectomia não foi fácil. Mas estou muito feliz por tê-la tomado. As minhas probabilidades de vir a desenvolver cancro da mama desceram de 87% para menos de 5%. Posso dizer aos meus filhos que não precisam de ter medo de me perder para o cancro da mama.”
A 27 de Abril terminou três meses de procedimentos cirúrgicos relacionados com a mastectomia, mantidos em privado e sempre com Brad Pitt ao seu lado, diz. Agora, a actriz resolveu tornar pública a decisão na esperança de ajudar outras mulheres, fazendo com que beneficiem da sua própria experiência. “Cancro é ainda uma palavra que planta medo no coração das pessoas, produzindo uma profunda sensação de impotência. Mas hoje é possível descobrir, através de uma análise de sangue, se somos altamente susceptíveis ao cancro da mama e dos ovários e então tomar uma atitude.”
Angelina Jolie é uma das estrelas globais de Hollywood, tão famosa pelos seus filmes como pelo seu casamento com o também actor Brad Pitt e o seu trabalho em causas humanitárias. Enviada especial das Nações Unidas, a actriz não parou de trabalhar durante todo o processo que culminou com a reconstituição mamária, chegando mesmo a acompanhar o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, William Hague, numa visita à República Democrática do Congo – e assistiu à cimeira dos mais altos responsáveis diplomáticos do G8 em Londres – para chamar a atenção para a violência sexual em cenários de conflito. No mesmo período, Jolie ajudou ainda a lançar um fundo para a educação das mulheres no Paquistão, promovido pela jovem activista dos direitos humanos Malala Yousafzai, que foi baleada pelos taliban em Outubro e esteve em risco de vida.
“Não me sinto menos mulher”, escreveu, antecipando perguntas de eventuais leitores que a vêem como um símbolo sexual, como uma actriz que alicerçou boa parte da sua carreira no cinema de acção no facto de ser uma mulher bonita com um corpo invejável (pense-se na Lara Croft de Tomb Raider e na Mrs. Smith de Mr. and Mrs. Smith, filme que co-protagonizou com Brad Pitt). “Sinto-me mais poderosa porque fui capaz de fazer uma escolha forte que de forma alguma diminui a minha feminilidade.”
Citando números da Organização Mundial de Saúde – o cancro da mama mata quase meio milhão de pessoas por ano em todo o mundo -, Jolie chama ainda a atenção para o facto de os custos elevados dos testes genéticos deixarem muitas mulheres sem saberem se vivem, ou não, “sob a sombra do cancro” (nos Estados Unidos custam 3000 dólares, cerca de 2300 euros). “Quero encorajar todas as mulheres, sobretudo se têm um historial de cancro da mama ou dos ovários na família, a procurar informação e médicos capazes de as acompanhar neste momento da sua vida, e a fazer escolhas informadas.”
A actriz dedicou também algumas linhas a agradecer ao marido o apoio constante e os momentos em que foram capazes de rir juntos, apesar de tudo: “Sabíamos que esta era a coisa certa a fazer pela nossa família e que nos aproximaria ainda mais. E assim foi.” Jolie quis apenas assegurar-se de que os filhos, que tantas vezes lhe perguntaram se ela também ia morrer com cancro como a avó, não ficariam desconfortáveis com os efeitos das cirurgias: “Eles podem ver as pequenas cicatrizes e é só. Tudo o resto é só a mamã, tal e qual como ela sempre foi. E sabem que os amo e que tudo farei para estar com eles o máximo de tempo possível.”
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